Léa Freire
Homenageada do projeto Instrumental Brasileiras
Instrumentista, compositora, arranjadora, editora e produtora, Léa Sílvia de Carvalho Freire nasceu em São Paulo em 26/02/1957. Iniciou seus estudos em piano aos sete anos, sua mãe tocava piano, e desde criança ela e os irmãos dançavam e faziam coreografia enquanto ouviam. Depois de duas tentativas frustradas com professoras muito rígidas, entra para a escola de Magdalena Tagliaferro, onde teve aulas de piano erudito com Ercília Boggi. Aos quinze, “negociou” com seu pai a troca de uma flauta doce (que ele chamava de apito) por uma transversal. Aos 16 anos passa a estudar no Centro Livre de Aprendizagem Musical (CLAM), do Zimbo Trio, onde estudou também violão com Luís Chaves.
Só aprendeu a ler partituras quando foi chamada para dar aulas de solfejo no CLAM, onde também lecionou flauta e violão e foi professora de Teco Cardoso - mas descobriu que o que gostava mesmo era de improvisar. Em 1978, Depois de uma tentativa de estudar na Berklee College of Music, em Boston pela qual se desinteressou (e onde foi incentivada por um dos professores a ir tocar profissionalmente), seguiu para New York onde teve seu primeiro duo de flauta e piano com Guilherme Vergueiro – e foi lá que descobriu que gostava de jazz mas queria mesmo é tocar samba e choro. De volta para o Brasil, passa a se apresentar em duo com Guilherme Vergueiro na noite em São Paulo. Com o nascimento do segundo filho, abandonou a música por 11 anos, foi trabalhar, começou como teletipista e saiu como diretora financeira. Léa adoeceu nesse trabalho – ela conta que voltar para a música foi uma “recomendação médica”. Deu certo, se curou.
Em 1997, cria o selo e a editora Maritaca: percebeu rapidamente que as mulheres instrumentistas eram pouco chamadas para trabalhos, e ao criar seu selo e editora, passou ela mesma a chamar os músicos com os quais queria tocar. No mesmo ano, gravou seu primeiro disco autoral, Ninhal, em parceria com a compositora e violonista Joyce, sua parceira nas canções “Samba de Mulher”, “Vatapá”, “Oásis” – e mais tarde, de “Freevo”, “Casa da sogra” e “Risco”. A Banda Mantiqueira, liderada por Nailor Proveta também participa do primeiro disco.
Em 1998, toca com o grupo de Teco Cardoso, quando fazem uma turnê pelos Estados Unidos e se apresentam no Blue Note, em New York. Dessa turnê, nasce o segundo disco, Qvinteto, lançado em 1999. Das oito músicas gravadas no CD, seis são de Léa. O quinteto era Teco Cardoso (Sax soprano), Léa Freire (Flauta), Sylvio Mazzucca Jr. (Contrabaixo) e Benjamin Taubkin (Piano) e A. C. Dal Farra (Bateria). O CD foi lançado pela Núcleo Contemporâneo e mais tarde pela Maritaca.
Em 2004, em parceria com Bocato, grava os discos Antologia da Canção Brasileira, volumes 1 e 2, onde interpretam canções do repertório popular brasileiro, de Noel Rosa a Fátima Guedes. Participam do trabalho Michel Freidenson (piano), Djalma Lima (guitarra), Sizão Machado (baixo) e Edú Ribeiro (bateria).
Em 2006, excursiona pelo Brasil e pela Europa com o pianista Thomas Clausen, gravando na Dinamarca o CD Waterbikes, com o Maritaca Quintet, formado por Léa Freire, Teco Cardoso, Afonso Correa, Fernando Demarco e Thomas Clausen. O disco, com 10 canções traz três composições de Léa Freire e cinco de Thomas Clausen, além Tom Jobim com Vinícius de Moraes e Chico Buarque. O CD é lançado pelo Maritaca em 2007.
Também em 2007, lança Cartas Brasileiras, unindo a música erudita com a canção popular, com dez de suas composições. Regido por Gil Jardim, produzido por Léa e com direção musical de Teco Cardoso, o CD contou com a participação de Mônica Salmaso, Walmir Gil, André Mehmari, Sujeito a Guincho, Mozar Terra, Thiago Costa, Paulo Bellinati, Paulo Braga, José Alexandre, Daniel D'Alcântara, Webster Santos, Guello, Luca Raele, Montanha, Zezinho Pitoco, Proveta, Alceu Reis, Toninho Carrasqueira, Silvio Mazzuca Jr., François de Lima, Izaías Almeida e Edu Ribeiro, além da participação de músicos da Orquestra do Estado de São Paulo (Osesp) e da Orquestra de Câmara da Universidade de São Paulo (USP).
Alguns dos participantes de Cartas Brasileiras se juntam criando quinteto e o CD Vento em Madeira, lançado em 2010. Formam o grupo Léa Freire (flauta), Teco Cardoso (flauta e saxofone), Tiago Costa (piano), Fernando Demarco (baixo) e Edu Ribeiro (bateria), com a participação luxuosa de Mônica Salmaso (voz).
O Quinteto Vento em Madeira grava mais dois discos: Brasiliana (2013) com dez canções, das quais cinco são de Léa e Arraial (2017), com quatro canções dos integrantes do grupo e mais cinco de Léa.
Em 2013, Amilton Godoy grava um CD em tributo à Léa, somente com as composições dela: Amilton Godoy e a Música de Léa Freire, também lançado pelo selo Maritaca. E em 2017, Léa lança o CD A Mil Tons, em parceria com Amilton Godoy, onde, por sua vez, gravam as composições dele.
Em 2019 forma o trio San-São Trio, com Amilton Godoy (piano) e Harvey Wainapel (clarineta e saxofone). No início de 2020, o grupo lança o CD Novos Caminhos, com seis composições de Léa Freire e quatro de Amilton Godoy.
Com a pandemia que se iniciou em seguida, Léa aproveitou para novamente se dedicar ao piano e ao estudo da bateria, tendo aulas com Celso de Almeida. E como uma artista dessa grandeza não consegue muito ficar parada, lançou, de março a junho de 2020, o projeto Cine Poesia, um disco/filme em parceria com o cinegrafista Lucas Weglinski, disponível integralmente no canal do Maritaca no Youtube[1].
É essa a grande artista que inspirou o Instrumental Brasileiras, o projeto que aqui se apresenta.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=A1QRbHyHxFs